Os 3 principais conselhos que aprendi trabalhando 15 anos com tecnologia
Por Fernando Bevilacqua

Os 3 principais conselhos que aprendi trabalhando 15 anos com tecnologia
Uma das perguntas que eu mais ouço de pessoas do mercado de TI, especialmente jovens iniciando a carreira, é que conselhos eu poderia oferecer a alguém que está moldando sua jornada no mercado. Tenho mais de 15 anos de atuação em TI, com experiência em diferentes segmentos e projetos, incluindo ensino universitário, pesquisa, setor público e privado, de games a tecnologia para a saúde. Dar conselhos é algo sempre difícil, porque toda caminhada é única e moldada por inúmeros fatores, sejam pessoais, interpessoais ou meramente o acaso.
Com esse grão de sal, gostaria de humildemente compartilhar alguns dos meus pensamentos que julgo serem conselhos úteis para qualquer pessoa atuando em TI. Há uma infinidade de assuntos que eu gostaria de comentar, mas se fosse obrigado a escolher somente três, eles seriam os seguintes.
Sua evolução como profissional é gradual e depende de você exclusivamente
Talvez a maior virtude que um profissional adquira com a experiência é ter um pouco mais de paciência. Principalmente em relação ao seu desenvolvimento profissional. Eu acho que uma metáfora saudável de evolução profissional é compará-la com plantar algo. Você pode regar com cuidado, adubar, cuidar da luz e da umidade, mas não há nada que possa ser feito para fazer uma planta crescer mais rápido do que ela pode. O mesmo é válido para pessoas.
Lembro que os momentos que eu mais cresci profissionalmente foram quando estava cercado de outras pessoas com conhecimentos maiores que o meu. Aprender sozinho é ótimo e funciona bem também, porém é você sendo guiado por você mesmo. Não há com quem discutir, não há quem discorde de você. Ter mentores ou outros profissionais próximos garante interesse em elementos que realmente são importantes (afinal outros estão usando ou fazendo). Além disso, confrontar ideias e pontos de vista ajuda a construir um senso crítico frente a tecnologias, técnicas e o próprio mercado.
Esse processo é gradual e depende de você. Se você for passivo de mais, o conhecimento adquirido será apenas aquele que chega involuntariamente. Se você for ávido de mais, certamente sacrificará partes importantes da sua vida, seja pessoal ou profissional. Manter-se com curiosidade e aberto a desafios, respeitando seu próprio ritmo, é a chave. Às vezes avançando mais intensamente, às vezes mais lento. Independente da forma, manter-se constante. E, acima de tudo, não se comparar com outros. Inspire-se em outros. Se houver comparação, que seja com você mesmo do passado para saber o seu progresso próprio.
Eu não precisava pedir explicitamente para alguém me ensinar algo, mas lembro de observar o que outras pessoas estavam fazendo. Aprendi muito sobre programação apenas conversando com excelentes programadores ou vendo como trabalhavam. Isso foi válido para muitos elementos: gerência, planejamento, comunicação, enfim. Se você não for atrás disso, ninguém irá por você, seja no trabalho, no estudo ou até na vida pessoal.
Oportunidades geralmente são disfarçadas de trabalho
Essa frase eu ouvi de alguém que infelizmente não lembro o nome, mas ela certamente descreve uma verdade. Várias vezes em minha carreira tive a chance de participar de atividades que pareciam muito mais trabalho pesado sem retorno e gratificação do que qualquer outra coisa.
Várias dessas experiências foram, de fato, só trabalho pesado sem retorno algum. Se tirei algum proveito delas foi saber reconhecer oportunidades parecidas no futuro para poder evitar. Outras, porém, foram experiências tão ricas que definiram minha vida profissional. Essas foram chances que inicialmente não revelavam o que realmente seria a experiência completa, porém cuja jornada me ensinou muito. E tanto ensinamentos técnicos quanto pessoais.
Eu ouvi bastante a frase “isso é perda de tempo”. De fato algum tempo meu foi perdido nessas oportunidades, mas nem tudo. Infelizmente não há fórmula mágica para saber se uma oportunidade será perda de tempo, ou se será benéfica. É importante, porém, manter os olhos e a mente abertos para elas. Não seja ingênuo de largar tudo para perseguir luzes brilhantes, mas não fique ancorado nos mesmos lugares se pode conhecer novos patamares.
Foque em fundamentos e confie na sua experiência
O mundo é uma constante evolução, e tempo é o seu bem mais valioso. Com a experiência e a idade, você não fica averso a risco ou a ideias mais audazes. Você simplesmente aprende a investir seu tempo.
Quando eu estava na faculdade, lembro claramente do desejo e do pensamento ininterrupto na minha cabeça: “preciso aprender todas as linguagens de programação”. No meu entendimento da época, eu precisava conhecer e ser fluente em todas elas para ser um bom profissional. Caso contrário, não conseguiria atuar.
Analisando esse pensamento em retrospectiva, é óbvio que isso estava errado. Primeiro porque é humanamente impossível, ou no mínimo não saudável, tentar saber sobre tudo que existe. Em relação a essa frase, porém, eu tenho certeza que outros já vivenciaram isso, trocando “todas as linguagens de programação” por outro termo. Talvez “os framework X, Y ou Z”, ou “as ferramentas A, B, C e D”. E isso é uma constante no mercado de TI. Será que eu devo aprender sobre alpha, beta ou gamma? Quem nunca se perguntou isso?
Eu geralmente enfrento esse dilema pensando nos fundamentos, no que compõe a tecnologia que conhecemos hoje. A faculdade é um excelente lugar para se aprender sobre fundamentos. Na minha graduação, por exemplo, não existiam soluções de inteligência artificial como existem hoje. Sequer existiam várias das linguagens de programação que temos disponíveis. E o que existe agora será totalmente diferente daqui uma década. O que me mantém relevante é que eu aprendi sobre as peças básicas que compõem essas soluções.
É clichê dizer isso, mas várias das aulas de matemática que eu tive e pensei “onde vou usar isso?” foi exatamente onde construí minha base para ter esses fundamentos. Aprender a programar foi muito mais do que aprender uma linguagem de programação e algumas palavras especiais. Foi sobre conhecer as pecinhas que compõem o funcionamento de um processador, de um banco de dados, de uma comunicação cliente/servidor, por exemplo. Tudo em tecnologia deriva do básico, de uma forma ou de outra.
Com o tempo, você começa a ver o mercado e as tecnologias se repetirem. Se você é jovem, talvez não tenha vivido tantos “ciclos” de transformação assim, então sua amostragem é pequena. Mas, eventualmente, você começará a pensar no formato “a tecnologia X é igual à Y, só que com Z diferente”. Esse entendimento é muito poderoso. Ele é o filtro que você precisa para decidir, por exemplo, o que é interessante estudar ou se aprofundar mais. Aprender sobre o framework web X ao invés do Y? Talvez eles sejam “o mesmo” (usem os mesmos princípios), e aprender um ou outro é mais do mesmo. Quem sabe aprender sobre Z seja mais proveitoso, porque usa conceitos que você nunca exercitou ou foi exposto.
Finalizando
Por fim, eu gostaria de mencionar algo que não comentei acima, mas que é importante de mais para deixar de fora. Soft-skills são incrivelmente importantes, por vezes mais importantes que as hard-skills (competências técnicas). Saber documentar algo, expressar ideias e cooperar entre pessoas, por exemplo, permite que você seja um catalisador de ações. Você é tão bom quanto as ferramentas que usa, e soft-skills são as ferramentas do dia-a-dia pessoal.